quarta-feira, 28 de outubro de 2009
CUBA LIBRE IN MEMORIAM
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
SALVE 27 DE SETEMBRO
terça-feira, 6 de outubro de 2009
ETICA DE UM SONHO
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
O SUSTO
domingo, 20 de setembro de 2009
SEM ASSUNTO
Desespero. Sabe quando você sente que a única saída é encher a cara? A noite até que estava boa, tinha bebido algumas cervejas com o Pará, mas ele tinha compromisso pela manhã e teve que ir embora. Estranho como quase nunca tenho compromissos pela manhã. Quando ele foi embora bateu o desespero. Uma vontade incontrolável de pirar, sair de mim, ficar na sarjeta. Não agüentei tive que mudar de bar. Pus-me a andar a esmo. Estranhamente não consegui encontrar um lugar para ficar, os botecos pareciam muito comportados, muito limpos, muito jovens. Já havia bebido em muitos deles e nunca tinha tido essa impressão. Alguns eram bons bares, discretos, sem universitários com camisas xadrez e all star. Só gente normal querendo beber e mais nada. Pareciam até silenciosos. Mas não naquela noite.
Já à uma hora de andança, percebi que estava indo pra Lapa. Não era má idéia. O gosto da cerveja já desaparecia de minha boca e lá poderia encontrar um camelô para reabastecer. A idéia de beber cervejas em lata não me incomodou como de costume. Num ambulante poderia beber sem falar, ou seja, com um ou dois gestos a cerveja estaria na minha mão. Tudo que eu não queria era conversar.
Ao chegar a rua Riachuelo, meu destino naquela noite começou a se revelar. Passei pela esquina da rua do Rezende e pensei em Lima Barreto. Ele morou aqui, disse a mim mesmo, será que minha relação com as mulheres vai ser tão pobre quanto a dele? Lima era quase um celibatário e eu estava longe disso. Mas foi assim que me senti. Entrei num bar e pedi cachaça. Cerveja não resolveria meu problema. Bebi uma, duas, na terceira quase vomitei no balcão. Fui ao banheiro mas não saiu nada. Percebi que o motivo dos meus engulhos era o balcão e não a bebida. Paguei e ganhei a Riachuelo de novo, não tinha dado seis passos e fui chamado por uma voz nasal.
Hei, vem cá.
Olhei e era uma figura feia, quase absurda. Grande, pernas grandes, peitos grandes, cara grande. Senti a sensação do balcão novamente. Resisti ao novo engulho e fui.
Olá, você me chamou?
Chamei sim, vamos ali.
Sorri. Fazer o quê minha querida? Ela não percebeu a ironia.
Se você quiser eu te chupo, estou com vontade de chupar um pau.
Com tudo que estava sentindo naquela noite, não me pareceu má idéia, se ela estivesse chupando não poderia conversar, e dar uma gozada é sempre bom. Fomos.
Paramos numa rua pequena, conheço bem a região mas sou incapaz de dizer qual era. Ficamos entre um carro e as grades de um prédio. Não falamos mais nada no caminho, mas sem constrangimento. Estava claro o acordo tácito firmado entre nós. Ela me chuparia e fim. Sem beijos, sem conversas, sem abraços. E foi o que aconteceu. Ela agachou e fez o combinado. Só abri o zíper. Obviamente ela sabia o que fazer e como fazer. Quando acabou levantou-se e foi embora. Só nessa hora percebi o porteiro observando. E veio outro engulho.
Voltei a me dirigir pra Lapa como se fosse um copo vazio. Quando finalmente achei um bom ambulante gesticulei e recebi uma cerveja da lata grande. Não era essa que queria mas me pareceu um bom presságio. Tirei do bolso uma nota e ele não tinha troco. Tentei o bolso de trás onde estaria minha identidade com o dinheiro da passagem de volta. Sorri. Não estavam mais lá. Não pude deixar de pensar que tinha valido muito a pena. Só tinha no plástico da identidade os trocadinhos da passagem. Se ela me cobrasse pelo serviço certamente ganharia uma das notas inteiras do bolso. Não da pra furtar o bolso dá frente enquanto se chupa.
No dia seguinte fui ao cartório fazer uma segunda via da identidade.
Havia uma fila razoável. Por não querer bater papo, estava naquela droga de fila. Foi o único arrependimento. Para me redimir disse ao senhor na minha frente
E esse tempo maluco que não firma heim...
domingo, 13 de setembro de 2009
TRIPLA DERROTA
Confesso, havia bebido bastante. Mas de maneira nenhuma isso é desculpa para a ocorrência desagradável. Nada mais corriqueiro do que me encontrar bêbado num sábado à noite, e isso nunca afetou minha saúde intestinal. Estava eu e alguns amigos numa animada conversa quando me vi só. Nada é mais solitário do que um peido molhado. Derrepente as vozes ficavam distantes e toda minha concentração estava numa simples questão, teria eu me cagado? Meu olhar vagava pelo bar passando desapercebido por ratos, baratas, mulheres gostosas, bêbados, vagabundas de bar, garrafas empoeiradas nas prateleiras enfim, não via nada, só a maldita duvida: acho que me borrei. Nunca havia pensado sobre isso, mas creio agora que essa é uma das piores dúvidas que se pode ter. Alguém sem imaginação diria: pior do que não saber se um filho e seu? Respondo: pior! E te explico por que. Uma duvida da paternidade se resolve sem mais estragos, ou seja, faz-se o exame e temos o resultado: é pai, ou em outras palavras, você não foi corno. Ou então, não é o pai, seu corno! E ta resolvido. A dúvida que me afligia ia alem. Não se tratava mais de estar borrado ou não, o problema é que não havia como descobrir a verdade sem um grande constrangimento. Ainda que estivesse bêbado tive discernimento para enumerar as opções.
Primeira opção: eu poderia pedir para alguém verificar pra mim. Essa é na minha opinião a mais idiota das opções. Numa mesa com cinco bêbados todos perceberiam e fariam uma algazarra sem tamanho. Seria humilhante. Engraçado, mas humilhante.
Segunda opção: deixar pra lá. Cagado ou não a cerveja tava gelada, a conversa tava boa, essa minha preocupação logo passaria. Disfarça que estava viajando em teorias escatológicas e pede mais uma.
Terceira opção: discretamente, e na minha mente de bêbado isso era possível, colocar a mão dentro das calças e verificar. Pronto. Ninguém perceberia e eu sanaria essa dúvida nojenta que pairava sobre minha cabeça.
Acho que ficou claro que optei pela terceira. Se você concordou comigo que esta era a mais lógica, você é tão imbecil quanto eu. Pra começar não há como meter a mão dentro das calças por trás num bar e ninguém perceber. Repito não dá. Passei pela humilhação de todos perceberem que eu estava cagado, e merecidamente fui zoado. Alem disso, e muito pior, se antes eu estava cagado, agora estava cagado e com a mão suja de merda. Deveria ter me contentado com a duvida até chegar em casa onde não passaria por esta situação. Dupla derrota.
Quanto ao titúlo, já estava cagado e com a mão suja de merda. Só me restava o instinto mais escroto da natureza humana. Tive que cheirar minha mão.