terça-feira, 6 de outubro de 2009

ETICA DE UM SONHO

            Abri os olhos e estava suado e ofegante. Em baixo de mim uma bela morena gemia a cada movimento pendular meu. Parecia que tinha nascido para isso. Estocava cada vez mais forte, e a cada estocada tinha a certeza de que iria fazer mais dez. Sentia uma prazer gigantesco. Quando cheguei bem perto do clímax, reconheci a mulher: era minha ultima namorada. Não liguei muito, apenas continuei. Fiquei a ponto de gozar, mas na hora h ao invés de gozo senti uma enorme ânsia de vomito. Não pude segurá-la. Vomitei, diga-se de passagem, muito.
            Corri envergonhado e abri a porta do quarto. Do outro lado estava uma outra mulher. Negra, corpulenta, gostosa, nua como a anterior. Não sentia mais o gosto do vômito. Ao invés disso, sentia uma enorme excitação. Não pude me controlar. Montei nela e comecei a meter frenéticamente. Novamente parecia que eu não sabia fazer outra coisa além daquilo. De repente olho para seu rosto e ela está rezando. Com as mãos em súplica reza e chora. Só nesse momento a reconheci, era uma outra ex-namorada. O choro vai aumentando em intensidade até que eu não consigo mais meter. Brochei.
            Levanto-me furioso e sinto novamente o gosto do vômito. Sinto também o gosto de lágrimas. Percebo que estou chorando desbragadamente. Saio do quarto e entro numa festa. Não reconheço ninguém, e ninguém parece me ver. Não havia mais sinais de lágrimas em mim. Batem na porta, uma mulher pequena de pele clara e aparelho nos dentes abre a porta. Era um entregador com um buquê de flores e um uma folha de papel. Ela recebe o buquê, e lê o conteúdo da folha, parece que ouço seus pensamentos. Vejo que o que ela lê é um poema meu. Ela dobra a folha duas vezes e coloca dentro do buquê. Entrega pra alguém o embrulho e pensa: muito previsível. Nesse momento reconheço a voz e o rosto dela. Mais um ex-amor. Sinto um peso enorme sobre mim, como se caísse de um penhasco. O choro e o vômito reaparecem.
            Acordo e estou deitado no sofá. Olho a minha volta e vejo minha roupa espalhada no chão e uma garrafa de vinho vazia. Nenhum copo. Meu último fio de humor pensa: quando estiver bêbado em casa tente ser minimamente civilizado e use um copo. Sorrio. Eu nunca fui muito civilizado. Vejo as horas e já são cinco para as quatro da tarde. Devo ter chegado pela manhã. Estava cansado, mas as paredes da sala me oprimiam. Sem falar no sonho terrível que acabara de ter. Precisava espairecer.
            Começo a andar pelo bairro e o sonho não sai da minha cabeça. As mulheres são como a bebida, se você não se defender pelo menos um pouco elas te destroem. Nunca soube me defender de ambos. Vaz Lobo me pareceu aconchegante naquele fim de tarde. Passo em frente a uma pensão e ainda estão servindo. Entro e sou recebido por uma mulata baixinha e sorridente. Ela me entrega o cardápio e vai a cozinha. Vendo-a por trás percebo que tem uma bunda linda e impinada. E que coxas! Ela volta e peço bife com fritas, acho que nem consultei o cardápio. Qualquer pensão sempre tem esse prato. Termino a refeição e a pensão já não tem mais ninguém. A mulatinha percebe minha satisfação e puxa assunto.
            Quase ninguém almoça essa hora. Os últimos antes de você trabalham no hospital aqui em frente, só por eles ainda não fechamos.
            Sorte a minha. Estava faminto.
            Sorte sua, Azar meu que só saio daqui escurecendo.
            Desculpe, não queria te atrapalhar. Prometo que não venho mais depois das três.
            Ela sorri. Não tem problema. Com você ou não os enfermeiros vêm todo dia. Acho que prefiro que você venha.
            Obrigado, assim eu vou virar freguês. Senta aqui um pouco, todos já foram mesmo.
            Ela sorri e diz que volta em um minuto. Como prometido, ela volta com uma garrafa na mão e um copo. Já não está mais com o avental. Dou uma nova avaliada e vejo uma mulher bem bonita. Belo corpo. Seios durinhos, porém pequenos. Não tinha lá um rosto muito agradável, exceto pelo sorriso que não saía da boca.
            Você aceita um licor? É da minha patroa, mas ela já foi embora.
            Claro. É de quê?
            Banana com canela. É uma delícia, ela só serve para os melhores clientes.
            E você não vai beber?
            Hoje não. Passa aqui na sexta que eu tomo um copo contigo.
            Eu sorri e bebi um copo. Ela prontamente me serviu outro. Estava realmente uma delícia. Fiquei lá mais um quinze minutos papeando e bebendo o licor. Bebi uns quatro. Pedi a conta e fui embora. Ela não me cobrou os licores, nem eu fiz questão de pagar. Saí voltei pra casa e pra cama. Antes de dormir pensei: às vezes a realidade é bem melhor que os sonhos. Dormi como uma pedra.    

7 comentários:

  1. Sou sua Fã!!!
    Acho seu jeito de comunicar maravilhoso ...
    aguardo novos contos ... rsrs ...

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  2. Sujeira e sofisticação! rs
    Pq não?

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  3. Elementos oníricos e imundícies... Jamais vi algo parecido na literatura... Petrus!

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  4. Agora vc me deixou em dúvida: o que dá mais enjoô e faz a gente vomitar mais: mulheres ou bebidas? de qualquer forma esse é o melhor conto até agora! e sonhando com ex, faça igual a mim: joga no 25 (vaca)

    (Markito)

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  5. Lord Rufos,
    Queria escrever a crítica dum conto teu. Me manda um e-mail.
    Mt bom!
    Bjs, queridão.

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  6. Tenho que concordar com o Marquito esse foi o melhor de todos até agora ... muito bom

    Leo

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