terça-feira, 23 de julho de 2013

OTIMISMO


Não existe saudade no escuro. No escuro são todas iguais. Rio e Joao Pessoa, inferno e paraíso, morte e vida, amor e paixão. Idênticos. E os arrepios lisérgicos parecem igualar mais as experiências de forma a acreditar que não existe geografia, só percepção. A solidão parece invenção do egoísmo, veja você: ventilador, teto, copo, uísque, geladeira, computador... mil homens e mulheres envolvidos na sua tarefa. Sinto que desde Adão nenhum homem esteve só. A única solidão é a companhia de deus. Não estou só.
Meus gestos alterados fazem meu corpo de mamute pender pra frente e pra trás como um autista do cinema. Não sei o que estou fazendo. Escrevo sem roteiro esperando que as palavras me venham, mas não me preocupo. Gonzo, bitnik, realismo fantástico, não importa. Nenhum deles sou eu. Uma legião de Eguns possivelmente está me rodeando e ainda sim foda-se. Também não sou espirita. O passado e o imponderável não me inspiram mais que o incomodo das minhas pernas de chinês de frente a tela dessa geringonça. Não possuo uma mesa. Como também não tenho uma casa, um trabalho, uma pátria, um nome, ou uma vó. Não sou confiável. Meus vizinhos só me dão bom dia apegados no meu sotaque de “americano” e no meu sorriso fácil. Quando acabar de perder meus dentes sei que não ouvirei mais esse comprimento e nem sentirei falta.
                A cada duas frases tenho que interromper a escrita porque o auto corretor parece que não prevê a primeira pessoa. Ou isso, ou minha concordância é péssima, o que não descarto. Mas também não previam a primeira pessoa o batalhão de professores que tive até hoje, e sempre tentaram fazer de mim um desajustado ou um discípulo. O pior imbecil é aquele que vê sabedoria quando o pensamento do outro reflete o seu. Concordar é próprio dos imbecis. Discordar também não é nada demais, enfim. Não temos muito que fazer além da primeira pessoa, não é egocentrismo, é pura desilusão.
                Já me faltam motivos pra continuar escrevendo, exceto encher a página.

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