Ouço sua voz gemendo meu nome e me ponho alerta, em riste. Procuro teu
corpo adormecido de índia, a boca aberta, nua e de costas, para encaixar-me
entre suas pernas e reiniciar os trabalhos. Estou só. Nem pele de boldo, nem
olhos de jamelão. O fedor do meu suor de penicilina em nada lembra o cheiro
forte do teu desejo. Minha cama pequena e acanhada é a marca do meu destino
sobre esse planeta. Não há conforto. O antibiótico me nega o uísque, a febre me
nega a brisa do mar, o catarro me nega a agua gelada, a tosse me nega até um
suspirar. Minha cela de franciscano dá a impressão de austeridade e paz, mas
não ha paz. A palavra é desolação. Aos remédios que me tiram o paladar recorro
por puro medo da morte. Mas não tem jeito. Sei que morrerei esta manhã para
renascer à tarde ainda decrepito
Acordo novamente e já não tenho a sensação de sua presença. A solidão de
fato é melhor que te procurar como um amputado a ter câimbras no membro que já
não existe. Tomo um banho e sinto a febre escorrer pelo ralo junto com a
sujeira do meu corpo. Não me sinto bem, mas já me sinto melhor. A doença não me
preocupa, posso até mesmo antever sua cura. Assim como posso novamente
acreditar que em breve estarei com você. Cinco ou seis dias, nada demais.
Oscilo entre a morte certa e a esperança no restabelecimento nos
intervalos do antitérmico. É como transitar entre duas existências igualmente
desconfortáveis. Já não me preocupa a temperatura do dia, a estação do ano, ou
a fase da lua. Minha doença é minha vida e nela posso confiar. É solida como a
espessura do muco, que quando não tenho mais forças para tossir, vomito. No
delírio da minha febre, ajudada pela atmosfera feérica causada pelo pouco ar
nos pulmões, tenho medo que meu quarto inteiro, não eu, esteja deixando esse
mundo. Sinto o castigo de Sapatá e o quase abandono de Eleguá. Mas não. Ouço as
vozes do lado de fora e me certifico de meu endereço. É a rua da amargura, onde
mora meu vizinho Major, e, por conseguinte, também moro eu. Seu violão lamenta
a falta de alguém que não lhe amava, meu corpo reclama sua falta.
Lindamente triste ...
ResponderExcluiramo você meu querido poeta ...
“Sou a vanguarda dum bando de canários, tenho por missão estar alerta aos sinais da primavera do seu coração.”
demais!
ResponderExcluirEu tb te amo, Tavinho...
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